Clísia Reis
Ao longo dos anos, várias culturas e religiões realizaram práticas que aproximassem elas do seu ‘eu’ interior e, sobretudo que ajudassem a ter uma conexão maior a sua devoção. Dentre as práticas mais realizadas é a peregrinação.
O ato da peregrinação é uma prática pouco comentada e discutida, mas que é de certo uma experiência que não pode ser definida em meras palavras, pois é acima de tudo um ato de fé e resiliência física e mental, que de fato emerge um indivíduo ao autoconhecimento, seja quais forem as suas motivações. Mas para uma melhor compreensão, a peregrinação é o ato de realizar uma viagem rumo a lugares considerados sagrados – seja por razões do próprio peregrino, cidades ou templos a pé. Porém engana-se quem pensa que é apenas ‘turistar’ pelo local, pois na verdade “a peregrinação é mais do que um turismo convencional”, afirmou o médico oncologista, Gion Aléssio.
O médico baiano Gion Aléssio, 42 anos, é um grande exemplo de resiliência e perseverança, pois poucas são as pessoas que cruzam sozinho a Europa de bicicleta. Gion realizou neste ano um sacrifício não muito comum para a maioria dos médicos, em pró dos seus pacientes. Este médico baiano decidiu realizar uma antiga rota de peregrinação da Inglaterra a Roma, conhecida como: “Via Francígena-Rota Cultural Europeia”, uma rota utilizada pelos peregrinos da idade média. Gion planejou realizar essa jornada por cerca de 38 dias, mas precisou alterar a rota, iniciando a viagem pela majestosa Abadia de Westminster, em Londres, devido ao tempo para chegar ao destino final.
Rota-Via Francígena
O médico prossegue em uma grande peregrinação percorrendo o sul da Inglaterra na Catedral de Canterbury, assim como também ao norte da França, no Calais. A jornada deste grande peregrino ainda segue por um intenso e incrível itinerário, ao passar entre as colinas íngremes da cidade de Montreux e ao percorrer nos Alpes em baixa temperatura, no Col du Grand Saint-Bernard, localizado na Suíça. Até chegar ao destino tão almejado, na bela cidade de Roma, na Itália.
Esta ousada e destemida iniciativa de Gion Aléssio em peregrinar ao redor da Europa, foi motivada por uma notável sensibilidade e, sobretudo empatia pelos seus pacientes. “Na condição de médico Oncologista que trabalha todos os dias com situações críticas para os pacientes e suas famílias sempre cercados pelo pavor da morte, poder realizar uma peregrinação é uma oportunidade especial de crescimento espiritual, reflexão e profundo exercício de autoconhecimento numa maratona de imersão mental, uma passagem iniciática que nos transforma e traz ferramentas para compreender melhor o processo de saúde-doença e as angústias vivências pelos pacientes Oncológicos e seus familiares”. Conta Gion Aléssio que atende em Salvador e Feira de Santana.
Ao ser questionado sobre os maiores desafios e dificuldades em peregrinar sozinho por milhares de quilômetros, Gion relatou que além dos riscos de acidentes em locais totalmente remotos, e das bruscas variações de temperatura ao longo do perímetro, umas das maiores dificuldades é de estar distante da sua família. “Estar longe da família, longe dos amigos, longe da nossa zona de conforto, segurança e proteção”. Afirma ele.
Quanto a descrever a experiência de realizar uma peregrinação por uma causa altruísta como esta Gion Aléssio definiu como:“Transformadora, espiritual e evolutiva.”
Dia Estadual do Peregrino
Embora não muito conhecida, aqui no Brasil foi decretada uma lei que valoriza a prática da peregrinação. Em dezembro de 2022, foi sancionada a lei que institui o Dia Estadual do Peregrino, no dia 25 de julho no estado de Goiás, em virtude do grande número de peregrinações religiosas no estado.